É o maior prémio de jogo até hoje atribuído em Portugal. A sorte foi entregue em Odivelas, mas o mais recente milionário nacional não deu sinal de si. Euromilionário misterioso alimenta os mais variados boatos.
O último totalista do Euromilhões apostou o mínimo e ganhou o máximo até hoje entregue em Portugal. Jogou uma aposta simples de dois euros na Papelaria Kaala, no Centro Comercial Horizonte, em Odivelas, e arrecadou 61,1 milhões de euros.
Isabel Justino, gerente da papelaria que deu a sorte, desconhece por agora a identidade do apostador.
“Só sei que o boletim foi aqui registado. Não sei em que dia jogou, nem as horas nem quanto apostou. Gostaria que a pessoa se dirigisse à loja, com a promessa de que não o vou identificar. Ninguém vai perceber quem é o vencedor e ele só será identificado se quiser.” E desejou que “o vencedor seja feliz e faça muitos felizes”.
EXCÊNTRICOS JOGAM POUCO
Jogar pouco parece ser a regra para ganhar muito. Além do último vencedor português (que repartiu o prémio com dois franceses), também Dolores McNamara, a irlandesa que até hoje conquistou o maior prémio, 115,4 milhões de euros, jogou o mínimo.
Sexta-feira, 29 de Julho, ia para o pub local, The Track, quando decidiu preencher um boletim de dois euros. Três horas mais tarde gritava no pub “Ganhei!”.
Entre os cinco primeiros excêntricos portugueses, só um deles jogou bastante. Dois apostaram quatro euros e outros dois dez euros.
A emoção de ter vendido o primeiro prémio levou Isabel Justino a perder a força nas pernas. “Quando me telefonaram da Santa Casa, comecei a descer e tive de me agarrar ao balcão”. Luísa Oliveira, do Café Danúbio, confirmou. “Chegou aqui branca e pediu-me um café.”
ENGANO TIRA SEGUNDO PRÉMIO
Uma mulher de Azóia, Leiria, alega que um engano no registo do Euromilhões lhe tirou o segundo prémio desta semana (224 419,28 euros). Segundo Susana Lopes, que queria apostar dois boletins com escolhas diferentes de números e estrelas, o agente registou duas vezes o mesmo boletim. “Deu-me dois recibos e não reparei no engano. No fim do sorteio é que percebi.” Terá sido um azar único, mas ela aceita-o com calma quase inexplicável. O agente, Paulo Vaz, do Café Rotunda, confirma o registo da chave por duas vezes, com intervalo de oito segundos. “Custa-me a crer num engano. Para fazer o registo duas vezes seguidas é preciso tirá-lo da máquina e passá-lo de novo. Há pessoas que registam a mesma chave várias vezes porque acreditam.”
POR VIA DAS DÚVIDAS FRANCÊS FOI TRABALHAR
Um dos dois franceses que sexta-feira ganharam 61 milhões de euros foi, por via das dúvidas, trabalhar ontem, num hotel. O pai dele é que se apresentou na papelaria, onde o bilhete tinha sido validado, para saber se a chave era de facto aquela. E era. O excêntrico reside perto de Evian, na Alta Sabóia. Diz quem lhe registou o boletim que mereceu a sorte, pois “a vida nem sempre lhe correu bem”. O outro boletim foi registado num quiosque situado junto à Gare do Norte, em Paris. O segundo euromilionário poder ser um cliente fiel ou alguém de viagem, que comprou a sorte e apanhou o comboio.
TOTALISTAS MISTÉRIO ALIMENTAM BOATOS
O milionário de Odivelas deu ontem azo a boatos. Primeiro, no centro Comercial Horizonte, a loja Bibelot não abriu e logo se pensou que a proprietária ganhara o prémio. Afinal estava na Figueira da Foz. Depois, a fortuna fora para a praceta Grão Vasco, mais tarde Belas e depois na casa de uma alentejana perto do Centro Oceano... Também circulou na comunidade lusófona na Suíça que Ricardo, o emigrante de Seia que em Abril ganhou 64 milhões, morrera num acidente de Ferrari. Só é verdade que tem um carro de grande cilindrada – a saúde está óptima.
TER FAMA SEM PROVEITO
A febre da corrida ao Euromilhões não terminou em Viseu com o apuramento da chave. Após o sorteio, logo se comentou que o totalista português seria da cidade. Ontem de manhã não se falava noutra coisa e todos apontavam para um grupo de apostadores da Pastelaria Serra da Nave. Na realidade, ficou a um número da fortuna. Faltou o 39. Apostaram 120 euros – seis números e quatro estrelas – e vão receber cerca de 14 mil euros.
MILIONÁRIOS NÃO SÃO GENEROSOS NA GORJETA
Entregar o Euromilhões não significa receber boa gorja. Segundo apurou o CM, isso nunca aconteceu. Em Moreira de Cónegos, o dono do Quiosque Fandino, Joaquim Pereira, disse que os vencedores lhe ofereceram uma salva de prata e 500 euros. Foram os únicos. Em Outubro, em Vila Nova de Cacela, a Papelaria Gonçalo entregou 7,5 milhões de euros. O totalista não deu nada a Fátima Rodrigues. Mas a proprietária não levou a mal. “Eram pessoas que precisavam e por isso fiquei feliz.” Na Churrasqueira Estrela d’Alva, em Almada, e na Casa Campião, Lisboa, os totalistas nunca apareceram.
SEIS EXCÊNTRICOS DESDE NOVEMBRO DE 2004
O Euromilhões de sexta-feira foi o maior prémio atribuído em Portugal, mas não a um português: um emigrante na Suíça já antes tinha ganho 64 milhões. Até agora são seis os portugueses vencedores. Os boletins foram registados em Vila Real de Santo António (Outubro de 2005), Almada (Maio), Funchal (Abril), Sierre, Suíça (Abril), Odivelas (anteontem) e Guimarães, em Novembro de 2004. Paulo Pereira e Domingos Oliveira, que residem no concelho de Guimarães, foram os primeiros euromilionários lusos. Domingos só um ano depois apareceu em público.
João Saramago/C.G./I.R. /L.O./M.B.